domingo, 19 de julho de 2009

Stefhany, uma menina do Piauí

Uma menina do interior do Piauí chamada Stefhany, de apenas 17 anos, produz um vídeo com sua câmera amadora, publica no Youtube e em pouco tempo esse vídeo se torna sucesso de audiência. O vídeo é uma paródia da música A Thousand Miles, da Vanessa Carlton, e a letra faz referência a um carro nacional, o Cross Fox.


O sucesso é absoluto e chega à mídia de massa (programa Caldeirão do Huck), onde Stefhany ganha seu carro entregue pelo gerente de marketing da Volkswagen. No programa, é anunciado também a campanha "Vanessa, libera para a Stefhany" para que a cantora Vanessa Carlton, compositora da canção parodiada pela menina do Piauí, libere os direitos autorais da música original.

De forma inocente, a atitude da menina Stefhany levanta questões importantes sobre dois modelos de negócio tradicionais: as agências de propaganda e a indústria fonográfica.


Fica evidente que as campanhas criadas pelas agências não podem ser focadas apenas em modelos tradicionais da mídia de massa. É necessária uma visão integrada da comunicação que considere a conexão entre usuários em mídias sociais uma oportunidade de negócio, especialmente quando o público da marca é jovem.


É importante também que as agências percebam que as interações nas redes sociais podem proporcionar a multiplicação da mensagem criada para seu cliente, assim como no caso do CrossFox. Portanto, a divisão nítida entre o que é
Off e Online se perde definitivamente.

A segunda questão (e mais crítica) é como a indústria fonográfica - que tem o direito de arrecadação sobre a execução pública - pode se beneficiar de sucessos como este, criados pelo povo, que acontecem diariamente e estão espalhados pelo país: em festas regionais, bares do subúrbio carioca, etc.


Acredito que qualquer atitude que tente podar esse comportamento natural da sociedade será em vão, como foi no caso dos
softwares de trocas de músicas digitais.

No entanto, entender como esse fenômeno acontece observando constantemente o comportamento das pessoas, identificando oportunidades e se antecipando a elas, são atitudes que podem abrir um campo interessante para a descoberta de novos talentos e definição de um formato interativo de comunicação e divulgação de músicas.

Será que oferecer músicas gratuitamente pela web não pode ser uma forma de divulgação?
(Existe um manifesto nesse sentido que inclui diversos artistas: Manifesto Movimento Música para Baixar).

Obviamente, o assunto é complexo e requer uma avaliação precisa de todos os fatores envolvidos, inclusive os legais (arrecadação, direitos autorais, impostos, execução pública, etc), mas trata-se de uma mudança importante em um modelo de negócio que tradicionalmente teve como objetivo descobrir
Hits, escolhendo os artistas e as músicas que as pessoas teriam acesso.

Enquanto indústrias tradicionais sofrem os efeitos dos fenômenos dos nichos, Stefhany está com a agenda lotada de shows. Atualmente, ela costuma reunir até 15 mil pessoas numa apresentação (mesma população de Inhuma, a cidade onde vive).

Como publicado em seu site:
"Absoluta, Stefhany não é só sensação da Internet. É fenômeno da música."

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Veja o vídeo de maior sucesso da Stefhany. [UPDATE] O vídeo foi retirado do Youtube

Provavelmente, a agência de propaganda e a montadora perceberam o sucesso da Stefhany nas mídias sociais e criaram ações aproveitando a referência feita ao carro na letra da música. A mais nova é que ela
está trocando de carro.
[UPDATE] A campanha foi produzida para o Supermercado Smart!

2 comentários:

  1. Fala Lê. Gostei muito do texto. A internet que conheciamos na bolha de 2000 tem outro foco nesse momento, principalmente considerando que o Brasileiro passa mais tempo na internet do que qualquer outro povo no mundo inteiro. Já passou da hora das empresas olharem pra isso e repensarem um pouco sobre seus modelos atuais de negócio.

    Um abraço ...

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  2. Fala Emerson,

    Certamente o momento atual da internet no Brasil apresenta novas oportunidades, no entanto exige também Planejamento consistente antes de qualquer iniciativa online.

    Abraços,

    Leandro

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