quarta-feira, 8 de julho de 2009

Olhe de dentro para fora e de fora para dentro

Sabe-se que as insistentes tentativas de definir arte têm se modificado ao longo do tempo. Existem diferentes afirmativas; desde uma técnica ou processo utilizado para realizar com excelência uma determinada atividade, até a capacidade de expressar sentimentos de forma original, ligada muitas vezes à iniciativas estéticas.

Nesse post vou me ater à segunda questão: arte como uma maneira de expressar originalmente os sentimentos, pois separa claramente a expressão da técnica e a criação da forma.

A busca do artista pelo original reflete um desejo latente de expressar seus sentimentos. Um estímulo interior irresistível de produzir por conta própria (com autonomia) que traz à tona, em alguns momentos, sua própria psique inconsciente.

Esse incessante desejo quando representado por alguma forma estética, expõem os sentimentos e a sensibilidade do artista em relação a sua percepção da vida e faz com que o processo criativo seja uma "luta" interna para superar seus próprios limites, onde há uma enxurrada de sentimentos, tais como: desejo, ansiedade, tristeza, angústia, prazer, curiosidade.

A satisfação de um artista ao encontrar uma forma autoral, revela-se muitas vezes como um paradoxo; uma percepção de estranhamento, espanto, senso de inadequação e fascínio de quem observa o resultado final: a arte original. As diferentes sensações vividas pelo artista em relação as pessoas que "consomem" sua obra são inúmeras, porém facilmente entendidas devido a criação do novo onde antes não existia nada igual.

Portanto, entendo que a criação original é resultado de inúmeros fatores, mas em especial da busca pelo novo, das referências pessoais de vida e do autoconhecimento do artista. A interpretação de quem observa a obra não é tão relevante ao ponto de modificar o estilo e a motivação de quem cria, pois este continuará experimentando e buscando pela sua forma autoral.

Levanto algumas questões para reflexão:


Você acredita que as pessoas que consomem a arte podem julgar a originalidade ou o belo?

Os olhos de quem assiste a obra é importante ao ponto do artista modificar seu estilo, seja na composição musical, nas artes plásticas, na literatura, etc?

Os filtros impostos pela mídia podem influenciar artistas atribuindo critérios discutíveis de originalidade e beleza para obras artísticas?

13 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Audaciosa a reflexão ...

    Meu único julgamento à arte está na pureza de sua expressividade, medida pela própria irrelevância de qualquer julgamento. Inclusive, vejo a criatividade apenas como veículo de manifestação da expressividade, inicialmente latente. É o que permite ao intérprete ser também criador, e alcançar sua própria beleza.

    Falando nisso, o que é "beleza" mesmo? Estaria ela na obra, no artista, no observador ou no momento? Ela pode ser criada ou simplesmente acontece?

    Bons tempos de discussões como esta na EBA ...

    Parabéns pelo blog, Leandro!

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  3. Lê,

    Acredito que a arte é inspiração Divina e representa verdadeiramente o Belo interior.

    Observe quando ouvimos uma boa música (lembrando das nossas conversas tendo como fundo musical Os Hermanos?), um bom filme (alguns podem até mudar a vida de alguém), etc...

    Ouço música quase 24hs por dia, sei bem o que a arte representa no meu estado de espírito.

    Pra variar uma música:

    "Pode até ser do corpo se entregar mais tarde
    parece simples, mas...a gente as vezes é
    e o amor é lindo deixo
    tudo que quiser eu não me queixo em ser..."

    "Mais Tarde" (Marcelo Camelo)
    Pepe

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  4. Muito bacana!
    Acho que a criação é exteriorização de todas as percepções e sentimentos do criador, tudo a sua volta o influencia diretamente.

    O bacana para quem consome é ver quão interessante pode ser o ponto de vista colocado pelo criador. Acho que na publicidade temos isso a todo momento.

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  5. Leandro a minha opnião é que, a tentativa de definir arte é SEMPRE a mesma ao longo do tempo, e a estética está SEMPRE ligada com o discurso artistico e que também SEMPRE traz a psique do artista no resultado final. Engraçado que escrevendo estas observações percebo que você ficou meio temoroso em colocar a arte em plano desconhecido. E para mim assim é. Adoro o "Acredito que a arte é inspiração Divina e representa verdadeiramente o Belo interior." falado pelo Pepe.
    As pessoas consomem arte pelo sentimento, pelos sentidos. Quando eu falo em consumo, lembro que é tirando completamente o interesse mercadológico criado em torno disso, coisa de madame.
    Os filtros da mídia não atingem o artista em plena performance

    abs

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  6. A obra do artista é a expressão da sua essência, essência essa que nem ele conhece, nem mesmo entende; por isso o processo criativo é tão doloroso e muitas vezes angustiante, alternando-se com prazer e realização.

    Acredito que o verdadeiro artista não se influencia por julgamentos, críticas, modismos ou tendências.. ele busca sempre o belo através de um aprimoramento pessoal, uma busca constante de algo que nem ele mesmo sabe o que é... Até que um dia o seu trabalho atinge uma excelência (ou não), identificada por críticos de arte, curadores ou "entendidos" que na maioria das vezes nem são artistas. Aí sim algumas pessoas começam a consumir sua obra por conta de um valor que passou a ser atribuído ao seu trabalho, que pra ele mesmo sempre houve. Talvez neste momento o artista se sinta momentaneamente realizado. Mas como verdadeiro artista, irá continuar na busca incessante do belo, da forma sublime de expressar sua essência.

    O artista que não se reinventa, que faz e refaz uma fórmula que deu certo comercialmente, que se deixa influenciar por opiniões, consumidores, mídia... não faz arte, faz produto!

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  7. Ah, e gostaria de levantar uma questão aqui...
    ARTE x ARTESANATO
    Abs
    Flavia

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  8. Gino, suas colocaçoes são ótimas e a questão subjetiva que existe sobre o tema nao nos permite afirmar nada.

    Pepe, a sua percepção de uma "inspiração divida" é totalmente pertinente e me fez lembrar de uma outra letra também do Camelo: "Talhando feito um artesão a imagem de um rapaz de bem"

    Gui, suas observações são sempre pertinentes. Realmente a insistência do ser humano em entender o desconhecido é enorme e a arte é mais uma dos temas que os pensadores tentam entender cientificamente, no entanto a inspiração dos gênios não pode ser documentada, copiada e depois colocada em um processo formal para reprodução em escala. Sobre o critério imposto pela mídia, sinto que há uma forte necessidade de "produzir" artistas moldados com esses padrões e acredito que isso pode realmente influenciar alguns iniciantes.

    Flavia, nas suas palavras noto que você adora a produção artistica, e não falo isso apenas por te conhecer pessoalmente, mas pelo que você escreveu. Muito bacana sua questão sobre a Arte e o Artesão. O que posso adiantar em poucas palavras é que me parece que a arte em si busca algo único e o artesanato tem uma característica marcante de colaboração, que passa do mestre para os aprendizes.

    Até o próximo post!

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  9. Flávia o artesão não tem o compromisso com o processo criativo. Existe uma linha bem tênue entre um mundo e outro. Vick Muniz, que acho um maravilhoso trabalho, transita muito bem por entre eles.

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  10. Não estaríamos lidando com suposições problemáticas?

    1 - Arte é a busca do belo
    Arte não é sinônimo de estética.

    2 - Produto não é arte
    Tenho uma visão inclusiva: do pintor de rua com azulejos e spray ao trabalho fantástico do Gui, da música do repentista às peças de teatro repetidas, do gratuito Sergio Bap ao caríssimo Yves Saint Laurent; da dissonância pouco popular do fusion, à denúncia social em quadrinhos, ... todos eles trazem o valor de uma alma independente do que é feito com o resultado, todos criam a beleza na mente de alguns e todos precisam de algum tipo mínimo de retorno.

    Já que a arte está num plano desconhecido, é difícil traçar linhas, mesmo tênues, entre ela e qualquer outra coisa.

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  11. Por mais difícil que seja definir o que é arte, a "beleza" está em reconhecê-la quando nos toca.

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  12. Leandro, excelente o texto.
    Novamente temos aí várias possibilidades de análises, o que levaria a vários papos diferentes.

    Lendo os ótimos comentários de todos, fiquei com a impressão que todos estão cavando emoções para explicar um sentimento. Pra mim é isso, a beleza é uma sensação, formada através de um emaranhado de conceitos e experiências totalmente pessoais.

    É claro que acho que isso nos leva a outras discussões, como de que forma esses conceitos são formados e qual a participação da mídia na formação do nosso conceito de belo? Mas sendo um pouco romântico, ainda prefiro acreditar que em algum nível temos algum controle sobre isso.

    Respondendo suas perguntas Leandro,
    1.Acho que todos podem julgar a originalidade e o belo e o fazem de qualquer jeito tornando público ou não suas opniões. Cada um vai ter uma explicação para sua opinião.

    2. Enquanto arte, não acho que os olhos de quem admira modifique um artista. A beleza nesse caso é traduzida pela interpretação, por isso acredito na ideia da sensação.

    Muito bom papo!

    Parabéns pelo blog.
    Abraço.

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