segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Poder das Pessoas - Ameaça ou Oportunidade?

O ser humano possui a necessidade natural de encontrar outras pessoas e compartilhar conhecimento. Essa característica se acentua em contextos adversos onde a colaboração mútua entre grupos de interesse comum passa a ser uma forma poderosa de comunicação.

Nos anos da didatura militar no Brasil, diferentes grupos de pessoas se encontravam, produziam e editavam suas obras de forma independente, utilizando a mídia alternativa como principal forma de expor suas ideias e contornar a censura imposta na época, trata-se da Geração Mimeógrafo.

Atualmente, a repercussão em redes sociais sobre a eleição presidencial no Irã, em especial a divulgação do vídeo amador da morte da menina Neda Soltani de 16 anos, mostra de forma evidente o verdadeiro potencial que as novas tecnologias oferecem: democratização da produção, distribuição rápida e global de conteúdo e acesso gratuito à informação.

Essas novas possibilidades, aliadas aos nossos desejos naturais de criação, socialização e comunicação, modificaram a forma como produzimos e consumimos conteúdo (música, literatura, notícias) e trouxe mudanças irreversíveis para indústrias tradicionais.

O momento atual exige reflexão e um profundo conhecimento do impacto das novas tecnologias no comportamento da sociedade. As empresas que estão sentindo na pele essas mudanças, precisam se reinventar e oferecer conteúdo de qualidade, independente do meio em que será distribuído. Para isso, é essencial entender o momento e a forma como as pessoas precisam da informação.

Dessa maneira, transformarão as aparentes ameaças em oportunidades sem precedentes.

19 comentários:

  1. Certíssimo, Leandro! O desafio depois de entender esse contexto é a empresa saber se posicionar. E quando falamos empresa, é um grupo de pessoas dentro da organização que precisa concordar o suficiente para agir. Mas só tem esse caminho.

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  2. É meu camarada, eu tb enxergo que a possibilidade de cada um publicar o que quer na web como herdeiro do movimento contestador dos anos 70 ( Power to the people) pois foi dele que nasceram os computadores de garagem e todas essas teorias de comunicacao. Mas acho nosso mundo hoje mutio sem engajamento real ( principalmente no brasil). O movimento do Ira ja tinha uma historia e web serviu de ferramenta para espalhar. Agora por exemplo o #forasarney do twitter começa no digital e espalha para o REAL. DAi eu ja nao creio na autenticidade do movimento e da força da sociedade envolvida. Quando a ferramenta vem em primeiro lugar é sinal que o conteúdo é esvasiado.

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  3. Quando você fala de uma geração que se formou na época da ditadura e também e também fala no conceito atual de "mídias alternativas", acho dissonante, pois hoje, mídias alternativas são institucionalizadas. Na época não. O que se assemelha das forma de comunicação "alterantiva" da época é a falta de controle do governo.
    Outro ponto, é que eu ainda não consigo visualizar uma forma política em redes sociais, ali se extendem ideologias já formalizadas. O governo não tem o controle, porém a democracia do meio dificulta o desenvolvimento de assuntos estratégicos, lembrando que o Video de Neda, não foi difundido em redes sociais. Com essa percepção me extendo aos outros paragrafos com uma visão mais pessimista da internet. A forma da produção artistica não mudará (incluo ai a literária), reforço isso com suas palavras "oferecer conteúdo de qualidade, independente do meio em que será distribuído" o que poderá mudar é a forma de exposição da mesma.
    A forma de produção de notícias já mudou. Concordo, temos que entender o momento e a forma de o que as pessoas entendem por informação.

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  4. sobre o coment de pcanano: o movimento é autêntico por que existe, é real. Já força da sociedade é única, o que pode ser duvidoso para você deve ser a força politica, intelectual, ou até ideológica dos militantes envolvidos. não podemos generalizar, se não, nossa auto estima vai para o beleléu.

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  5. Nao sei, guilherme, fico na duvida de se estar criando uma falsa sensação de democracia e de ativismo ( caso brasil, não do Irã). Uma democracia do mouse, de linchamentos virtuais sem consistencia com a sociedade civil. Semana passada teve tb a caça aos caras que mataram os cachorros a paulada. Movimento que foi do twitter ao youtube e chegou a prisão via ministerio publico e policia civil. Ainda nao sei aonde isso irá levar, mas estou curioso para assistir.

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  6. Interessante o texto!

    Gosto da democratização da informação, mas não deixo de me preocupar com as muitas notícias falsas, informações superficias (pra não dizer ruins) e conteúdos de baixíssimas qualidades. Mas tudo bem, vai de cada um garimpar o que é relevante.

    Sobre os comentários do Guilherme e Pablo, eu acho que a grande maioria das pessoas que usam as redes sociais hoje, a usam buscando a fama e o reconhecimento, com o falso engajamento político ou contestador como máscara para aumentar o apelo.

    A facilidade de trocar informações com conhecidos, amigos ou estranhos contribui com a qualidade das discussões (como essa) e incentiva as pessoas a pensarem. Mas existem tantas outras forças contrárias a conscientização que a briga é difícil.

    Pra mim, o foco das empresas deve ser a sociedade e tudo que lhe diz respeito. Aí sim teremos conteúdo interessante.

    =]

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  7. Fala pessoal! Discussões de alto nível, parabéns!
    Há mesmo quem defenda por métodos científicos, através da psicologia evolucionista, que o ser humano tem o comportamento gregário para fins de ajuda mútua. Concordo que é um comportamento congênito, nasce com a maioria dos indivíduos.

    A comunicação entre os indivíduos do mesmo grupo de interesse é, ou deveria ser, naturalmente colaborativa, mas a colaboração em si não se restringe à ser uma forma de comunicação no meu entender. A finalidade de colaborar aliada à criatividade é que definem as formas de comunicação mais adequadas e eficientes ao propósito e contexto.

    Acredito, Leandro, que você tenha em mente os aspectos, apoiados e evidenciados pela tecnologiam que impulsionam a Cauda Longa, quando manciona a democratização dos meios de produção, distribuição e sua abrangência. Nada mais acertado a meu ver.

    Também concordo que as facilidades dos nossos tempos façam com que, além da democratização da produção, as pessoas, especialmente os tradicionais produtores de conteúdo (até mesmo artístico), pelo menos repensem a forma de produção. Lembrando que forma é diferente da conceitualização, neste modelo, a ferramenta vem por último, mas saber de ante mão como ela pode facilitar a abrangência, agilidade e o consumo do conteúdo é uma informação que pode ter valor no momento da produção deste mesmo conteúdo. Não vou me ater à especular qual a natureza de conteúdo para não alongar e me ater aos aspectos mais pragmátcos, mas não podemos de deixar de dar a devida importância à este aspecto também.

    Acredito que a qualidade do conteúdo nunca deveria ter sido negligenciada, tanto por empresas como entre pessoas ou outras organizações. Esta mesma qualidade é que, no nosso momento, vai destacá-la de um mar de dados e informações muitas vezes irrelevantes, ou o que é pior, equivocados. Isto agora é mais evidente do que nunca.

    Abraços

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  8. Pablo, porque insiste tanto na palavra "falsa"? O movimento acontece, está ali. Quando você fala"uma falsa sensação de democracia e de ativismo" parece que existe uma comparação, algo utópico, passado...
    Fernando, as pessoas sempre buscam reconhecimento, acho que fama também (deve ser legal ser famoso, né? rs). brincadeiras a parte, vejo um tom preconceituoso em seu coment, cada um tem o engajamento político compativel com seu nivel social e cultural, e você se contradiz quando fala "A facilidade de trocar informações com conhecidos, amigos ou estranhos contribui com a qualidade das discussões (como essa) e incentiva as pessoas a pensarem."
    Fernando Lima, a produção artistica sempre estará repensando suas formas de produção, Picasso fazia projetos com velocidade de captação da luz, Da Vinci fazia seus projetos, como um prototipo de um helicoptero, não acredito que o meio digital (internet mesmo), influenciará ao ponto de haver uma ruptura.

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  9. Guilherme, sobre a divulgação do vídeo, entendo que a internet possibilitou, além da divulgação, a exibição na íntegra de um vídeo tão impactante, eu mesmo não consegui ver até o fim.

    Pablo e Guilherme, eu compartilho com a sensação de um falso engajamento pelo fato dos "formadores de opinião" que iniciaram o movimento - específico para o fora Sarney no Twitter- ser discutível, o que reforça o que o Guilherme falou sobre a a força intelectual da iniciativa.

    Fernando, sobre a relevância, cabe a nós filtrar o que realmente é valioso nessa enxurrada de informação, um poderoso filtro são as indicações de amigos, o boca a boca, que é facilitado pelo meio interativo.

    Fernando Lima, em algumas situações infelizmente a qualidade do conteúdo é sim negligenciada, como aponta o Fernando em seu comentário.

    Faço aqui uma pergunta a todos: O que estamos produzindo nesse exato momento, com esse rico debate, não é fruto da possibilidade que esse meio nos oferece de criar em conjunto conteúdo?

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  10. Fala Guilherme... Então concordamos. Não creio também em ruptura no processo criativo. Creio sim em algum impacto que seja mais evidente, do que até então (nem entro no mérito das exceções geniais), na forma de como é gerado conteúdo, incluindo o artístico.

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  11. Fala Leandro... De forma alguma disse que a qualidade de conteúdo não é mais negligenciada. Sempre foi, e acredito que sempre será em algum nível. E definir critérios de qualidade ainda é algo ainda mais complexo. Quis expor que, pelas facilidade que se dispõe hoje, a análise crítica do conteúdo é mais acessível (meta conteúdo afinal) e as incoerências são mais evidentes quando falamos de conteúdo compartilhado por uma grande quantidade de pessoas.

    Respondendo à sua pergunta: sim. :)

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  12. Mas e se ao final de X discussões aqui você publica um livro? o que é o meio?
    Continuo cético, é chato, mas eu quero mudar.

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  13. Guilherme,
    Quando falei de reconhecimento, foi realmente desmerecendo muitas pessoas, que por exemplo "retwitam" mensagens com o objetivo de se incluirem em movimentos contestadores, quando na verdade, o objetivo é apenas se sentir em um grupo independente de qual seja sua verdadeira convicção. Não sei em que nível estou sendo preconceituoso, mas seu comentário me deixou curioso.
    Sobre a contradição, acho que meu comentário ficou incompleto. Discussões e opiniões diferentes (como a que leio aqui) ME incentivam a pensar.

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  14. Fernando Lima, Um dos melhores filtros - que funcionam para mim - são as indicações de amigos e formadores de opinião sobre um conteúdo, informação, livro, filme, exposição, etc...

    Gui, nesse caso me referi ao "meio" como a possibilidade de interação que esse blog nos oferece para criar juntos. :)

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  15. Acho que ao mesmo tempo que temos 1.000 canais de comunicação, as ideologias tornam-se mais superficiais. A acessibilidade acaba tirando um pouco o poder das pessoas por um lado, e por outro, democratiza o debate com os idealizadores. As pessoas têm acesso, mas poucos mantêm na essência a sua ideologia. Quanto às empresas,meu pai sempre falou que todos os negócios, mudam completamente de perfil de 5 em 5 anos. Na minha opinião, os negócios expostos à tecnologia, mudam de perfil de 1 em 1 dia. É complicado para as empresas para entrarem num ciclo de renovação diária de seu posicionamento. É caro! Mas fico realmente feliz porque isso centuplica a demanda por profissionais criativos por todo canto.

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  16. Talvez o próximo tópico possa ser uma tentativa de separação (pelo menos para se entender) entre processo criativo e a forma pela qual o produto deste processo é comunicado. Em segundo momento se este mesmo produto é, ou não, impactado pela ciência de como as novas tecnologias podem agilizar a produção, disseminá-la ou até mesmo viabilizá-la.
    É assunto pra meireles! Discussão de alto nível. Mais uma vez parabéns a todos.

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  17. Fernando, leve em consideração, que essas pessoas que "retwitam" são as mesmas que quase elegeram o Gabeira em 2008.
    Grande Mateus!
    Fernando Lima, não podemos nunca desprezar os "gênios", eu sou apaixonado por todos que conquistam esse lugar. Eu tenho bem clara essa separação " processo criativo e a forma", adoraria um novo tópico com esse tema.

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  18. Sobre a construção da obra artistica, vi muitos musicos falarem que a distribuição digital faz a musica voltar a epoca do fonograma. Onde uma música era vendida isoladamente. E isso acaba com o conceito de obra que Disco criou, e o cd herdou. Um artista quando criava um disco fazia entorno de um conceito, da musica a capa. O mp3 ( e suas inplicações) mexe tanto com a forma com com o processo criativo

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  19. Claro Guilherme... de novo concordo, nunca devemos desprezar os gênios, pelo contrário, quando usam sua genialidade de forma saudável, devemos exaltá-los. Acho que não consegui ser claro se dei a impressão que estava ignorando a importância deles. Abs.

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